quinta-feira, 11 de abril de 2019

Acessibilidade em vídeos: por que a legenda não é suficiente para surdos

Saiba o que é preciso para fazer um vídeo 100% acessível para surdos e veja sugestões de canais para se inspirar

Pela primeira vez, em 2017, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) contou com uma prova em vídeo traduzida em Libras, voltada aos participantes com deficiência auditiva.
O filme “Teu mundo não cabe nos meus olhos“, estrelado pelo ator Edson Celulari, teve sessões exibidas nos cinemas com tradução em Libras, legendas e audiodescrição.
canal da Turma da Mônica no YouTube criou uma playlist especialmente voltada aos surdos, com tradução em Libras de episódios do desenho animado.
Estes são apenas alguns exemplos que mostram a crescente preocupação no Brasil com a acessibilidade em vídeos para os surdos. E isso não tem que ser visto simplesmente como uma tendência, mas sim como um dever. Afinal, o último Censo do IBGE (2010) apontou que existem quase 10 milhões de deficientes auditivos no país. Não tem como achar que a mensagem de um vídeo está clara se cerca de 5% da população não consegue compreendê-la.
Ao contrário do que muita gente pensa, inserir legendas em um vídeo não é a maneira definitiva para resolver este problema. A seguir, vamos explicar o motivo disso e o que é preciso para tornar um vídeo 100% acessível para surdos.

Nem todo surdo é bilíngue

Há pessoas que nasceram surdas e outras que perderam a audição (ou parte dela) em um certo momento da vida. No segundo caso, as legendas dos vídeos são um ótimo recurso, já que grande parte aprendeu a língua portuguesa antes de se tornar surdo.
Mas para quem nasceu surdo ou perdeu a audição antes de ser alfabetizado em português, ler um texto como este que você está lendo se torna uma grande dificuldade.
É que o aprendizado de um idioma tem muito a ver com a fonética. Não é à toa que primeiro aprendemos a falar, para só depois ler e escrever. Associamos letras e sílabas com seus sons. Por isso, aprender a ler em qualquer idioma é desafiador para quem nunca escutou os sons das palavras.
A língua materna de muitos surdos não é, portanto, o português, e sim a Língua Brasileira de Sinais, mais conhecida como Libras. Este conjunto de sinais tem sua própria gramática e é, desde 2002, considerado oficialmente um idioma brasileiro. Dessa forma, existem os surdos que se comunicam por Libras, aqueles que utilizam a língua portuguesa e os bilíngues, que compreendem os dois idiomas.
Uma comunicação eficiente com surdos por meio de vídeo precisa considerar este grupo por completo, e não apenas uma parcela dele.

Vídeo: uma ferramenta completa para se comunicar com surdos

A gente pode nem perceber, mas os vídeos já são parte integrante do nosso dia a dia. Assistimos a vídeos no smartphone, na TV, no computador, no cinema… É difícil passar pelo menos um dia sem ter consumido um conteúdo neste formato, nem que sejam os Stories do Instagram.
Os vídeos online, em especial, devem crescer ainda mais. Segundo um estudo da Cisco, este tipo de conteúdo representará 82% de todo o tráfego mundial da internet até 2021.
Já uma pesquisa do Google e do Instituto Provokers aponta que o consumo de vídeos online no Brasil cresceu 90% no período entre 2014 e 2017.
E por que não aproveitar o poder dos vídeos online para torná-los acessíveis aos surdos? Se a luta para a acessibilidade no cinema e nas emissoras de TV é mais difícil, podemos começar por nós mesmos, já que todos podemos ser criadores de conteúdo no mundo virtual.
O vídeo é uma ferramenta ainda mais eficiente para se comunicar com surdos do que textos, já que pode combinar as legendas, a tradução em Libras e o contexto das próprias imagens, que também permitem a leitura labial.

Por que tornar meus vídeos acessíveis para surdos?

Podemos responder essa questão com uma simples palavra: cidadania. É o nosso dever promover a inclusão, e não a discriminação de qualquer grupo em nossa sociedade.
Mas também podemos recorrer à legislação. Mesmo ainda não tendo nenhuma lei específica para a acessibilidade em conteúdos audiovisuais de forma geral, há outras que reforçam a importância dessa questão.
Decreto Nº 5.296/04 inclui os sistemas e meios de comunicação e informação entre os espaços e serviços que precisam promover a acessibilidade. A Lei Nº 13.146 determina que sites mantidos por órgãos de governo e empresas com sede ou representação comercial no país devem garantir o acesso à pessoa com deficiência – e isso inclui todo o conteúdo, seja textos ou vídeos.
Até mesmo a ANCINE (Agência Nacional do Cinema) publicou duas instruções normativas exigindo que as produções audiovisuais realizadas com recursos públicos geridos pela ANCINE tenham recursos de acessibilidade e que, até setembro de 2019, 100% das salas comerciais de cinema no país forneçam esses recursos também.
Se as leis e normas já estão se adaptando para a inclusão, por que não fazer o mesmo? Imagine só o tamanho da repercussão positiva se você ou sua empresa criasse um canal ou plataforma de vídeostotalmente acessível. Você estaria incluindo milhões de brasileiros entre o público do seu conteúdo. Vai ficar de fora dessa?

Como tornar meu vídeo acessível para surdos?

Para que seu vídeo seja acessível para surdos, dois elementos são fundamentais: as legendas e a tradução em Libras.
Com certeza você já sabe como funcionam as legendas. A tradução em Libras também está cada vez mais comum de encontrar. Especialmente em campanhas publicitárias governamentais ou discursos de autoridades políticas na televisão. É aquela janelinha que fica no canto da tela com uma pessoa fazendo a tradução.
Ambos podem ser feitos por meio da edição. Algumas plataformas de vídeo também realizam a tradução automática a partir do áudio, como o YouTube, mas esta opção fica bastante sujeita a falhas. Existem ainda soluções que facilitam o trabalho dos produtores de vídeo e automatizam a tradução, como o tradutor de vídeos da Hand Talk que realiza tradução para Libras desde que os vídeos possuam legendas em português. Para isso, os vídeos devem estar hospedados em um site e ter um player que seja compatível com a Hand Talk, como o próprio Youtube.
Mesmo durante transmissões ao vivo online, também é possível inserir esses recursos. Para isso, você precisará utilizar um encoder. É um software que conecta os sinais da câmera e do microfone ao servidor da plataforma de transmissão ao vivo para realizar a live. Você pode controlar o que está sendo exibido na tela da transmissão diretamente deste software, alternando câmeras, exibindo slides e, inclusive, inserindo legendas e uma janelinha para a tradução em Libras.
Para que estes recursos sejam realizados da melhor forma possível, a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) Soraya Ferreira elaborou junto com uma equipe um guia completo de acessibilidade em produções audiovisuais. No guia, você encontra todos os parâmetros recomendados para trabalhar não somente com tradução em Libras e legendas para surdos, como também com audiodescrição, para deficientes visuais. Você pode acessar o guia completo neste link.

Imagem de fundo roxo, com o sinal de acessibilidade à esquerda. Ao lado direito da figura está escrito: o guia final de ferramentas de acessibilidade digital.


Canais para se inspirar

Existem diversos canais de vídeos online acessíveis para surdos, seja no YouTube ou em outras plataformas pela internet. Selecionamos cinco para você se inspirar e começar a criar seu conteúdo 100% acessível!

TV INES

TV INES é a web TV do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). A programação é 100% bilíngue (Libras e português) e conta com conteúdos ao vivo e gravados. Você encontrará programas jornalísticos, infantis, educativos, entre outros, além de filmes e documentários.

Visurdo

Dentre os vários youtubers surdos, destacamos o canal dos irmãos Andrei e Tainá Borges. Com mais de 87 mil seguidores, o Visurdo reúne vídeos de humor e conteúdos que esclarecem dúvidas e mostram curiosidades sobre o dia a dia dos surdos. Todos os vídeos são gravados em Libras com legendas em português.

Canal Acessível

Canal Acessível foi criado em parceria entre a IQ Agenciamento e a ETC Filmes para publicar vídeos de grandes influenciadores digitais em um formato acessível, com tradução em Libras, legendas e audiodescrição. Há conteúdos de influencers como Cauê Moura, Caio Novaes (Ana Maria Brogui), Marimoon e Maurício Cid (Não Salvo).

Glossário Científico em Libras – Projeto Surdos

O Projeto Surdos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), oferece cursos na área de biociências para alunos surdos e ouvintes do Ensino Médio. O projeto também está desenvolvendo o Glossário Científico em Libras. São vídeos com a tradução e a explicação em Libras (com legendas) de termos científicos.

e-Aulas – USP

Não poderíamos deixar de indicar um canal de vídeos que ensinasse Libras para surdos e ouvintes. A Universidade de São Paulo (USP) disponibiliza um curso livre online e gratuito em seu portal e-Aulas sobre a Língua Brasileira de Sinais. As aulas são publicadas em duas versões: uma em português e uma em Libras com legendas em português.

Soluções profissionais para seus vídeos acessíveis

Se você pretende fazer uma transmissão ao vivo profissional com acessibilidade para surdos, mas não sabe como operar um encoder para inserir os recursos necessários, conte com o Netshow.me. Tenha à disposição uma equipe de produção especializada para realizar a live e inserir a janela de tradução em Libras e as legendas ao vivo. Além disso, conte com um software profissional de live streaming e link de internet dedicado para sua transmissão.
O Netshow.me também pode te ajudar a ter uma plataforma personalizada de vídeos online acessíveis. Disponibilize seus vídeos organizados por diretórios, defina restrições de acesso para garantir a segurança do seu conteúdo e tenha acesso a relatórios completos de audiência – tudo com seu próprio layout e opção de white label.

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